Após o
desencarne, os espíritos são recepcionados, 'tratados' e preparados para uma
nova etapa para seguirem o caminho da evolução
Uma pesquisa do Laboratório de Estudos de Desenvolvimento da Universidade de
Harvard, divulgada em maio deste ano, indicou que os bebês já nascem sabendo.
De acordo com o laboratório da pesquisadora Elizabeth Spelke, os bebês em
geral sabem, antes de completarem um ano de idade, o que é um objeto: uma
unidade física distinta, em que todas as partes se movem mais ou menos como
uma só e com alguma independência dos outros objetos.
A Doutrina
Espírita entende, desde a codificação feita por Allan Kardec, que os
espíritos já encarnam com o conhecimento adquirido nas vidas passadas e,
assim como a encarnaçáo tem um período médio, há também um período médio
entre encamações. Mas o que acontece durante este intervalo?
O que
ocorre logo após o desencarne é uma das grandes curiosidades dos seres
humanos. Tanto que a maior parte tem medo de morrer -ou desencarnar, no termo
espírita - porque não sabe o que virá, tem receio do desconhecido. No
entanto, como dizem os espíritos orientadores da SER Espírita, o desencarne
não é tão assustador. Pelo contrário. Seria uma continuidade do aprendizado
conseguido enquanto encarnado - seja na Terra ou em outro polissistema
material - com um objetivo dignificador: a evolução.
É de
conhecimento geral que todos estamos na 'fila do desencarne' e que é preciso
aceitá-lo como algo natural, necessário e primordial para a evolução.
Desencarnar e aprender do lado de lá' é tão necessário para a evolução quanto
encarnar e aprender do 'lado de cá'.
Mas,
afinal, o que os espíritos trazem de informações aos encarnados em relação ao
pós-desencarne? Primeiramente, o que já se sabe é que ninguém fica
"largado" depois do desligamento do corpo físico, como diz a
coordenadora de estudos espíritas Vanilza Suhevits. Segundo ela, todos os
espíritos, ao desencarnarem, são recepcionados por outros, desencarnados, que
têm a mesma afinidade. "Quando desencarna, o espírito vai para uma
freqüência sem espíritos dispostos a recepcionar aqueles que estão chegando",
afirma. A predisposição dos espíritos é uma das características do
polissistema espiritual. Segundo ela, sempre haverá espíritos mais ou menos
espiritualizados, que têm um maior ou menor entendimento.
O teólogo
espírita Waldomiro Koialanskas afirma que neste processo de recepção - e
também após - sempre, seja encarnado ou desencarnado, o espírito deve
respeitar o livre-arbítrio do outro. Principalmente, os 'recepcionistas' do
polissistema espiritual. Deve orientar, auxiliar, mas sem interferir nas
decisões do outro. "Devem usar toda a extraordinária dose de paciência e
caridade que conseguiram acumular em seus estudos", lembra. E as
dificuldades ou facilidades não são tão diferentes daquelas do polissistema
material. "É a mesma diferença entre receber uma visita alegre,
esperançosa e cheia de vida e um macambuzio que adentra o espaço para
reclamar de tudo ou falar apenas de suas decepções, amarguras, frustrações e
doenças", compara. Lembrando que todos os espíritos jamais perdem a
individualidade, como afirma Allan Kardec na obra O Livro dos Espíritos.
No filme
"Nosso Lar" - baseado no livro Nosso Lar, de André Luiz,
psicografado pelo médium Chico Xavier - cenas marcantes mostram os espíritos
recebendo atendimento em locais semelhantes a hospitais. "Estes locais
existem para que os espíritos façam o seu reequilíbrio - se necessário - e
relembrem de se comunicar pelo pensamento, como se locomover sem usar as
pernas etc", comenta Vanilza. Ela explica ainda que os menos evoluídos
podem demorar algum tempo para estar cientes do desencarne; já os mais
evoluídos tomam esta consciência com mais rapidez e já são encaminhados para
atividades de trabalho e estudo coerentes com suas capacidades.
O diretor
da Federação Espirita Brasileira (FEB), Geraldo Campetti, lembra-se da
importância do entendimento de que os espíritos nunca perdem sua
individualidade, ou seja, "somos nós mesmos do outro lado da vida",
mas que o mundo espiritual "é a nossa verdadeira pátria”. Ele lembra que
no mundo espiritual é possível que os espíritos sejam recebidos por
familiares, amigos e espíritos protetores. Ele compartilha da opinião de
Vanilza, afirmando que a frequência determina quem recebe os desencarnados.
"Estamos sintonizados com aqueles que se assemelham conosco em gostos,
costumes, comportamentos e ideias Na lei divina não há privilégios. A
situação do espírito quando desencarnado é consequência do que ele fez ou
deixou de fazer na existência física. A cada um será dado segundo suas
obras", reforça.
O espírito
Leocádio José Correia explica que o processo de desencarne é impactante,
independentemente da religião. Ele se lembra dos ‘hospitais' para onde os
desencarnados são levados e que o tempo para que o espírito desencarnado
entenda o que está acontecendo varia mudo. 'Sendo um desencarne natural, o
espírito que teve uma vida proveitosa, em que fez registros de suas diversas
experiências, boas ou más, mas conscientemente soube administrá-las, dentro
de dez ou 15 dias (isso é muito relativo, depende de cada criatura, da sua
possibilidade consciencial ou de autoconhecimento) recobra plenamente suas
funções".
COMUNICAÇÃO
E TRANSPORTE
Como
lembra Campetti, a vida no mundo espiritual é bastante
"movimentada", dinâmica. Ninguém fica parado por lá. A comunicação
e os movimentos que ocorrem 'do lado de lá', no entanto, não acontecem como
aqui na Terra. Com o desencarne, os espíritos perdem o corpo físico. E, como
explica Kardec, os espíritos desencarnados ainda carregam um fluido que
mostra como é a sua individualidade, sua aparência, chamado de perispíritoo.
Sem corpo, não há como andar ou correr como fazemos por aqui.
Segundo
Vanilza há alguns desencarnados, conforme seu nível de evolução, que podem
continuar acreditando que sentem fome e sede e que precisam andar, talar e se
locomover, como faziam no meio material. Estes, explica ela, na medida em que
vão estudando, adquirindo conhecimentos com os espíritos mais evoluídos,
percebem que já não tem mais estas necessidades. "Estas necessidades não
existem pela constituição fisiológica do espirito e perispírito".
observa. Os espíritos se comunicam, é claro, mas pelo pensamento. A
movimentação e o transporte não se dão como no meio material, pois o corpo já
não existe mais.
Koialanskas
observa que o pensamento é só uma das maneiras de comunicação e transporte. O
que ocorre no polissistema material. “Aqui conseguimos o deslocamento em um
sistema aquático, por exemplo Por que não haverá nos polissistemas
espirituais? Deve existir a liberdade de deslocamento e extensões possíveis
de serem atingidas, limitada ao progresso de cada um", comenta.
Campetti, por sua vez, explica que à medida que o espírito evolui passa a ter
a possibilidade de acessar meios de transporte com mais tecnologia, por
exemplo.
O espírito
Correia lembra ainda que o aprendizado de como se alimentar e se movimentar,
por exemplo, é conseguido com o tempo.
O filme
"Ghost - Do Outro Lado da Vida", da década de 1990, mostra a
historia de um homem que desencarna em um acidente de trânsito e tem
dificuldade para entender. Ao desencarnar, o homem vê uma espécie de filme de
toda a sua vida. Segundo o espirito Correia, isso ocorre para que a pessoa
faça um exame de consciência. "O espírito reage porque ele não gosta de
lembrar práticas ruins, principalmente depois que já fez um reciclo de vida
e, por vezes, até já pediu perdão a quem ele prejudicou. No entanto, aquele
comportamento só eliminado quando ele estiver plenamente consciente de que
não conseguirá mais repeti-lo por que seus valores mudaram”, salienta.
Vanilza
lembra que este é um momento muito importante, pois depois dele muitos
espíritos se sensibilizam e sentem remorso pelas escolhas feitas, e também
pelas omissões. "Mas aqueles que estão cientes do processo
reencarnatório sabem que terão que melhorar e já pensam em estudar e buscar
aprendizados nas próximas reencarnações que permitam não incorrer nos mesmos
erros", avalia.
A VOLTA
A idéia de
que desta vida nada se leva é real. Segundo Kardec, em O Livro dos Espíritos,
a alma não leva nada deste mundo, "senão a lembrança e o desejo de ir
para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura e/ou amargura, segundo
o emprego que fez da sua recente encarnação".
Para o
retorno ao polissistema material - o reencarne - existe um preparo. Em geral,
o reencarne tem acontecido em um intervalo de 80 anos, segundo informações do
espírito Antônio Grimm. Período que vem aumentando nos últimos anos já que o
tempo entre as reencarnações depende da média de vida dos encarnados.
"Não é uma regra fixa, pois os encarnados estão vivendo mais, então, conseqüentemente,
este tempo pode aumentar", opina Koialanskas.
O teólogo
afirma que este preparo acontece em "ambientes de sabedoria". Ele
compara aos preparativos de uma viagem: quando a pessoa vai sair de férias,
por exemplo, pesquisa sobre os costumes e tradições do local para onde vai
viajar, o tipo de hospedagem, a alimentação mais comum na região, o clima, os
pontos turísticos etc. "Então, porque as pessoas não se preocupariam em
fazer o mesmo com a viagem mais importante da etapa atual?", questiona.
Vanilza,
por sua vez, analisa que, se o tempo for menor do que 80 anos, haveria o
risco de um reencontro no polissistema espiritual, o que, em algumas
circunstâncias não seria recomendável. "Tais espíritos poderiam sofrer
um desequilíbrio tão grande que poderia comprometer a reencarnação
atual", comenta.
Sendo
assim, a estudiosa aponta que, antes de reencarnar, os espíritos fazem um
plano. Neste projeto se encontram as necessidades de aprendizado do
reencarnante que sejam mais urgentes para o seu progresso e também aquilo que
o auxiliaria a colaborar com o desenvolvimento social da humanidade.
"Após a elaboração deste plano, o espírito estará pronto para fazer a
sintonia de freqüências com os pais mais adequados, a mentalidade local,
regional, continental etc, considerando a importância de cada aprendizado
citado no plano, ou seja, existirão aprendizados que são primordiais para o
espírito na próxima reencarnação", explica.
Já
Campetti, da FEB, diz que este intervalo é muito relativo. Para ele, alguns
demoram mais tempo, outros menos, mas que não há uma regra absoluta para esta
informação. E a volta, segundo ele, depende do livre-arbítrio de cada um, já
que muitos espíritos podem escolher a situação em que irão reencarnar, que
seria mais adequada para a evolução de cada um.
A partir da Revista SER
Espírita (Ed. 19 - Junho/2012)
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